terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Atleta - Estudante III

Após a análise dos dois planos, o de estudante e o de atleta, é muito fácil perceber que conciliar as duas actividades com sucesso é quase impossível.
É possível assistir a todas as aulas, trabalhos de grupo, fazer frequências e exames ao mesmo tempo ter o ritmo de preparação desportiva necessária para cumprir o mínimo?
E se formos reler o que diz o Estatuto de Alta Competição (consultar Página do IDP ) no capitulo do Regime Escolar, podemos constatar que estão previsto vários apoios, aos quais os atletas nessas condições podem recorrer e os respectivos estabelecimentos de ensino devem conceder. Mas em termos práticos ocorrem várias dificuldades para que esta conciliação seja um sucesso, a primeira grande gafe está no artigo 13º, pois contempla a alteração de datas de avaliação, quando estas coincidem com competições e preparação para estas, mas ficam perguntas no ar (com resposta óbvia!): Então e no restante tempo da época em que não competiu ou não esteve em estágio, o atleta não treinou? Não teve o mesmo ritmo de preparação?
Pode-se dizer que é um princípio válido e útil o que está legislado, mas enquanto o estudante não tiver um plano de estudo/avaliação adequado ao seu plano de treino diário como atleta, terá de continuar a optar duma actividade em detrimento da outra.

Será assim tão complicado providenciar um plano anual que contemple a formação académica e a alta competição?

No meu caso, devo dizer que tanto no ISA como agora na FMH, senti sempre uma abertura dos professores na flexibilidade da marcação de exames ou frequências fora da data oficial, mas o problema mantém-se, uma vez que oficialmente o nosso dia-a-dia de atletas em constante preparação não está contemplado.

Em Portugal existem algumas instituições universitárias sensíveis ao assunto e sempre que se fala desta matéria a Universidade do Minho é exemplo, em que existe um plano especial para “estudantes atletas de alta competição”, foi criado um programa Tutorial que acompanha estes alunos, permitindo que tenham aulas à medida e avaliações à medida, digamos assim, mas no essencial trata-se dum programa que prevê e garante que o sucesso desportivo destes alunos especiais acompanhe o sucesso escolar. (ver: Regulamento do TUTORUM criado em 2005 - Programa de Apoio Tutorial aos Estudantes Atletas de Alta Competição da Universidade do Minho - Serviços de Acção Social da Universidade do Minho )

A opção de muitos jovens atletas de alta competição acaba por passar uma espécie de imigração, pois optam por ir estudar para fora do país, ingressando em faculdades que permitem conciliar os estudos com o treino.

No entanto não me parece fazer muito sentido que exista um regime especial de acesso ao ensino superior, para um grupo especial da população e que depois durante a frequência do curso se veja “obrigado” a optar por uma ou por outra actividade, porque não existem medidas para garantir uma preparação equiparada. Pelo mesmo motivo que levou o atleta a ter direito ao regime especial, faz sentido continuar a ter medidas complementares de apoio para ter as mesmas possibilidades de sucesso como estudante, comparativamente a alunos regulares e a atletas regulares. Praticar desporto pode começar como um hobby, pode apenas ser uma actividade complementar na nossa vida, mas quando falamos de alta competição, é outra coisa, outra responsabilidade, não só estamos a falar dum grupo muito restrito de pessoas, como duma actividade que não está ao alcance de qualquer jovem. Mas a nossa sociedade tem talentos noutras áreas, por isso sempre fui de opinião que jovens talentos das mais diversas áreas como a música, o teatro, a dança, etc, deveriam ser justamente contemplados com regimes especiais de apoio na formação académica, não devem servir apenas de exemplo para a sociedade e representarem o nosso país, mas também devem ter uma alternativa de vida como cidadãos. O estatuto de alta competição regula a actividade do atleta de alta competição, mas nos termos de acesso ao ensino superior o que vem previsto no estatuto não dá facilidades ou retira lugar a outros estudantes, como muitos pensam, não! Funciona sim como uma espécie de complemento ao tempo exigente da actividade da alta competição, ao desgaste físico e psicológico necessário, algo que não está ao alcance de todos.

Tal como expliquei, se não existir uma boa coordenação entre o grupo de trabalho desportivo e o grupo de trabalho universitário, para os atletas de alta competição esta conciliação com sucesso simultâneo em ambas as áreas, nunca será uma verdadeira realidade.

Susana Feitor

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