sábado, 3 de janeiro de 2009

Análise a 2008 IV - Susana em Discurso Directo

2008… Já lá vai!
Para mim o ano de 2008 não teve propriamente um começo, foi antes uma espécie de continuação de 2007. A motivação e o trabalho que desenvolvemos no final da época de 2007, no Campeonato do Mundo foi de qualidade. Trabalhámos a pensar nos JO Pequim e após um 5º lugar em Osaka fiz questão de me manter concentrada no caminho e no objectivo 2008.
O primeiro trimestre correu como previsto, com bons registos na pista coberta e em 10 kms, mas o mais relevante seria a reconquista do título de campeã nacional de estrada em Fevereiro.


Habitualmente dividimos a época em dois picos de forma e o primeiro seria para atingir na Taça do Mundo na Rússia, em Maio, com uma passagem marcante pelo Grande Prémio de Rio Maior. Apesar de não ter conquistado a vitória na minha terra, a 5 de Abril, fui 2ª com um excelente resultado. Depois uma gripe limitou-me o objectivo de uma classificação no top 8 na Rússia, no entanto a marca de 1h29.38 manteve-me no rumo certo. E o segundo trimestre da época terminou bem com mais um 2º lugar no Challenge da IAAF em Krakow-Polónia.


A parte final da época iniciou-se com um estágio em altitude e até ao objectivo principal ainda teria de competir nos Campeonatos de Portugal e, antes de viajar para Pequim, mais um estágio. Nos 10 000m dos Campeonatos de Portugal fui 4ª. Não contava ficar fora do pódio, mas contava com um registo perto dos 44 minutos e a marca de 44.08.1 deixou-me satisfeita. É que dadas as circunstâncias de selecção da equipa para Pequim, seriam de esperar andamentos rápidos e foi o que, tanto a Ana Cabecinha, como a Inês Henriques e a Maribel Gonçalves, fizeram ao registarem os seus próprios recordes pessoais e um novo recorde nacional.


Com a época a decorrer bem, aproximava-se a recta final para o objectivo principal: os Jogos Olimpicos. Um lugar entre as oito primeiras seria como a cereja no topo do bolo. Apesar de todos os planos em termos de preparação terem sido bem cumpridos, a selecção à última hora destabilizou um pouco os ânimos no meu grupo de trabalho e a minha ansiedade, própria para estes momentos, estava um pouco acima do habitual. Mas tudo o que tinha a fazer estava no caminho certo. O grande dia chegou mas, diferente dos demais, nasceu negro com muita chuva. Na verdade, para mim, permaneceu assim durante muito tempo…
Desisti antes do décimo quarto quilómetro e falhei o principal objectivo da época… o principal objectivo após os JO de Atenas em 2004. Não sei se alguma vez conseguirei ultrapassar a angústia dum não-resultado nos JO Pequim.


Mas o IAAF Race Walking Challenge também foi um dos objectivos de 2008 e a final do circuito em Murcia, a 21 de Setembro, estava inicialmente nos planos como apenas um momento competitivo extra. Mas depois da desistência em Pequim, senti que tinha de exorcizar a minha agonia e a minha angústia, não só revendo vezes sem conta tudo o que se passou naquele dia 21 de Agosto, mas também voltar a competir com vontade e prazer. E foi isso que aconteceu em Murcia. Apesar de já não estar na forma de Agosto, fiz 1h30.17, mas ganhar com 31ºC e com toda a concorrência em prova. Foi altamente relevante para mim em especial no que toca à minha motivação competitiva!

Olhando para trás, vejo 20 anos de momentos fantásticos e de excelência competitiva, vejo também momentos difíceis e de insucesso, altos e baixos, tal como é a vida de qualquer cidadão é. 2008 na minha vida desportiva espelha isso mesmo, uma época com momentos altos e de qualidade e com momentos baixos. Todos deixam a sua marca. Sem dúvida, que tal como em 2005 a conquista da medalha Bronze no mundial será inesquecível, a desistência em 2008 também será inesquecível, mas desta vez é uma memória difícil, que ainda trás alguma agonia.
Ambas as memórias fazem parte da história da minha carreira e ambas têm os seus ensinamentos próprios!

Susana Feitor

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