quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Rumo ao final da época 2008

Pois é, num instante já estamos a chegar ao fim...

O que se passou nesta época, serve tal como em todos os anos anteriores, depois duma grande reflexão, individual e conjunta, para me fazer crescer, corrigir os erros e reforçar as boas opções. Confesso que esta não está a ser fácil, não será possível apagar os maus momentos, é que alguns mais parecem pesadelos vividos, mas ao mesmo tempo também são esses que ajudam a sentir com mais "calor" os bons!

Frases feitas dizem que "é preciso saber perder, para saborear melhor a vitória", é certo, concordo plenamente... mas como digerir uma desistência tão relevante, com a de uns Jogos Olímpicos??... uns dirão: " olhar em frente e seguir" ou “todos temos a fragilidade da falha, é preciso levantar a cabeça e retomar o caminho”, ou outros dirão: "está na altura de parar" ou “a idade já pesa” ou “ que já não tem capacidade para competir a este nível”, outros ainda fazem conjecturas do mais absurdo sem me conhecerem minimamente, essas opiniões são as mais fáceis de ler e até dão uma vontade feroz de responder torto, mas o meu respeito pelo pensamento individual apenas me faz contar o que me vai na alma.

Não o vou fazer hoje, ainda vou fazendo as minhas reflexões diárias sobre tudo o que se passou no dia 21, mas também sobre muitas outras coisas na minha vida desportiva de 20 anos. Os meus princípios e os meus valores levaram a que conduzisse a minha vida num sentido e por isso ainda me custa mais aceitar o meu resultado em Pequim. Penso que tomei, tomámos, as decisões mais correctas e mais acertadas até à hora de competir, mas o que a história escreveu não reflectiu tanto empenho e tanto trabalho, não só meu, como também de todos os que estiverem junto a mim todos estes anos.

Aspirações e trabalho

É óbvio que não esqueço os resultados que fui tendo ao longo da minha carreira, os bons, os maus, os péssimos e os muito bons... Muita luta, muitos obstáculos, que felizmente fomos conseguindo ultrapassar, em especial os de inicio. É que o Portugal de Alta Competição evoluiu muito, mesmo ainda com algumas discrepâncias em relação a muitos países, as nossas necessidades e reivindicações de hoje em dia são muito diferentes das de 1992…1996…1998… isso mostra que estamos no bom caminho, apesar de se ir muito devagarinho, algumas mudanças fizeram a diferença e se o caminho continuar no rumo da melhoria do Projectos e consolidação dos programas desejados, as gerações vindouras ainda podem vir a ter condições que as gerações antes da minha não imaginavam possíveis.

Mas apesar dos maus momentos, esta minha olimpíada acaba por ser a melhor da minha carreira. Desde que me lembro, sempre fui capaz do melhor e do pior, tal como está tão bem patente nos resultados do ano de 2005.

Muitas lesões e momentos de desespero, mas mais ou menos fui sendo capaz de dar a volta e junto com os que trabalham comigo e com todos que me têm dado a sua energia, apoio ou patrocínio, consegui resultados e momentos de alegria, que me faziam aspirar uns Jogos de 2008 com um resultado de grande valia, uma luta pelos lugares de finalista (top8-10).
Nunca vou deixar de praticar desporto, além de ser uma paixão é algo que é profundamente intrínseco, mas queria ter o meu momento olímpico, para avançar para outra fase mais branda. Estes Jogos Olímpicos já vinham na sequência de Atenas 2004, que por sua vez tinham atravessado na garganta a lesão grave de Sydney 2000, por isso a nostalgia e a motivação à volta dos “meus” Jogos Olímpicos sempre foram muito intensas.

O meu “Eu”…

Quero muito digerir o que se passou, espero que me ajude a entender melhor o meu “Eu”, que me ajude a crescer mais. Espero que me ajude a corrigir erros e a reforçar as boas decisões, não só para a minha vida desportiva, mas também para a minha vida como um todo.

O meu “Eu” saiu ferido desta etapa e só vou conseguir aliviar algum stress com outras competições, pois sabemos o que consigo fazer e o que o meu corpo ainda pode aguentar. Fui agora Guadix (Espanha) e apesar de não ser possível comparar 3km com 20km, a minha atitude e predisposição foi notória, tal como a boa forma física, não foi o facto de ter ganho que fez a maior diferença, foi a capacidade de me sentir capaz e de me sentir novamente lutadora. É certo que esta era apenas uma competição de promoção, mas para terminar a época ainda terei uma competição a sério (20km na final do IAAF RWChallenge) a 21 de Setembro, onde vou encontrar a maioria das adversárias. Estou concentrada nesse objectivo, é notório que a forma física não será tão forte como a de um mês atrás, mas para corresponder à confiança e à motivação vai ser um dia relevante!

Futuro… “Londes 2012”

Muita gente me pergunta sobre “Londres 2012”, a verdade é que está muito longe, no tempo e no meu horizonte e neste momento quero muito viver um ano de cada vez, uma época de cada vez. Tenho muitos projectos de vida que gostaria de concretizar e todos sabem que a alta competição ao nível que está hoje é muito exigente, requerendo uma dedicação 24h sobre 7 dias e trabalhar com o corpo pede cuidado ainda mais especiais que noutra actividade qualquer.

Desejo ir ao meu 10º Camp. Mundo, não sendo de modo algum uma obsessão, é um objectivo desportivo renovado, que sabemos ainda estar ao meu alcance a um nível internacional de grande valia. Mas que importa agora é confirmar se o meu corpo, a minha capacidade psicológica e motivação estão ao nível desejado e depois junto do grupo de trabalho adequado e das condições necessárias, teremos os ingredientes próprios para um trabalho produtivo.

Competição, Marcha…

Em Portugal, a marcha ao nível da alta competição está muito forte, sua maioria jovens e cada um com as suas características próprias, mas o que é certo é que as marcas e resultados feitos nestes JO mostram bem esse valor e são difíceis de bater, 2 recordes nacionais de grande nível e 3 atletas nos lugares cimeiros, são dum mérito difícil de igualar e revelam bem que por exemplo para fazer parte das 3 atletas, que irão ao Mundial é preciso estar em grande forma competitiva.

Estes resultados conquistados pela Ana Cabecinha, pela Vera Santos ou mesmo pelas que não competiram Inês Henriques e ainda Maribel Gonçalves, estimulam, no dia-a-dia, à concentração e ao querer fazer mais e melhor, estimula a procura da qualidade de trabalho e do fortalecimento do carácter.
E neste momento que estou a terminar 2007/08, sinto a motivação e vontade para lutar por um lugar para o mundial de 2009, que será em Berlim, na Alemanha.
É que se conseguir um lugar na equipa é porque tudo correu bem, é porque estou forte e estando forte posso continuar a lutar pelas minhas aspirações de finalista numa competição de alto nível! Se não conseguir lugar na equipa é porque as minhas adversárias trabalharam as suas capacidades melhor que eu.

Adoro o que faço e gosto de partilhar esta paixão! Fá-lo-ei sempre que puder!

Susana Feitor

2 comentários:

  1. Para começar um grande projecto, faz falta valentia. Para terminar un grande projecto, faz falta perseverança. O teu projecto será que já acabou???

    É duro fracassar, mas muito pior é o facto de não se ter tentado. Tu fizeste-o. Este fracasso supõe um capítulo mais na historia da tua vida e uma lição que te deve ajudar a continuar a crescer.

    Não te deixes desanimar pelo fracasso. Aprende com ele, e segue em frente.

    "Os grandes espíritos sempre tiveram que lutar contra a oposição feroz de mentes medíocres" (Einstein)

    FORÇA SU

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