terça-feira, 26 de maio de 2009

Zangada ou Desolada... Nem sei!... Por agora é preciso continuar, isso eu sei!

Esta época tem sido um caos competitivo.

Tive um inicio tardio e tenho treinado com altos e baixos, como é habitual em qualquer preparação, mas à excepção da competição em Ibiza, a 28 de Março, nesta época ainda não consegui concretizar em competição o que tenho vindo a produzir em treino.

No ano passado, nesta altura tínhamos estado a preparar a Taça do Mundo na Rússia e, apesar de ter tido boas prestações no Campeonato Nacional (campeã com 1h29'31'') e depois em Abril, em Rio Maior (2ª com a mesma marca), o que é certo é que antes da Rússia tive doente, com gripe, e não fui nas melhores condições. Foi uma fase complicada na preparação, mas o esforço resultou num 10º lugar com 1h29'38.

Este ano pouco a pouco tenho vindo a subir, com alguns contra-tempos, que mais ou menos vou conseguindo controlar. Mas no treino tenho vindo a subir gradualmente ao ponto de me encontrar melhor que no ano passado na mesma altura, pelo menos todos os indicadores vão nesse sentido.Só que por uma lesão ou outra (uma na face posterior da coxa em Abril, em Rio Maior, outra na zona abdominal que primeiro deu sinal em Itália), o que é certo é que não tenho sido capaz de demonstrar em competição a marca que sinto ser capaz de fazer.

É mesmo revoltante, chegando a causar uma zanga cá dentro que não me é nada habitual. Pois o tempo vai passando e as oportunidades de justificar o nosso trabalho e o nosso empenho também vão passando.

Este domingo, Metz marcou dum modo muito agressivo a maioria dos atletas da selecção nacional. Nenhum dos atletas que ficaram longe dos seus objectivos, treina tanto e se empenha tanto, para que as contas saiam assim "tão furadas"... podemos apenas pensar que o desporto de alta competição é mesmo assim... e é! Mas tanto? Bolas, até parece mentira!!

O dia estava muito quente e húmido, mas não era por isso que qualquer atleta iria modificar o seu objectivo. Adapta-se a estratégia e a táctica, nada mais. E foi o que fiz!

Senti-me bastante bem no aquecimento, apesar dos habituais desconfortos abdominais (são raras as excepções que não sinto isso). Pensei bem como seria a minha história e a maneira como me iria impor, em primeiro a mim e depois às demais atletas. Olhei em redor e estava a sentir algo similar ao que senti em 2008 a 21 de Setembro na final do Challenge, em Murcia. Se o meu resultado individual me satisfizesse, iria compor bem o grupo português, bastaria que as 4 tivessem uma prestação "normal"...

Decidi esquecer as adversárias, concentrar-me na equipa e fazer a minha prova... à Susana Feitor! E isso é o quê? Simples... estar tranquila, esquecer os incómodos (físicos ou psicológicos), partir decidida, mas muito descontraída, desfrutar e apenas dar importância à frequência cardiaca/ritmo e abastecimentos. O resto que não depende de mim, como por exemplo as adversárias... deixar ir.

O meu empenho é sempre o melhor que posso, mas como se trata duma competição colectiva, mesmo em situação extrema de incapacidade penso sempre em ir até ao fim ou até não aguentar, pois nunca se sabe o que pode acontecer e uma prestação por mais pobre que seja pode ser altamente relevante para a pontuação do grupo.

Ao tiro da partida e depois de carregar no relógio lá fui. Saí bem, a controlar as variáveis que me são possíveis de o fazer... o ritmo ia bom, abastecimento também bom... senti que poderia impor um esforço para passar aos 10 kms entre 45'15 e os 45'45, para depois aguentar e dobrar a segunda parte. Tudo correu assim... mas apenas durante os primeiros 5 kms.

De um momento para o outro, senti novamente a zona direita do meu abdominal a incomodar... de imediato abrando! Mas ao contrário do que se passou em Itália, desta vez parar não alterou nada, a dor foi permanente. Na passagem pelo abastecimento pedi gelo, pois podia ser que ajudasse a aliviar... mas nem por isso ajudou muito. Parei várias vezes para descontrair.

Entretanto podia ir assistindo à disputa da Inês Henriques e da Vera Santos, que na frente iam discutindo com as russas os lugares no pódio. Mas quando fui ficando para trás, a Ana Cabecinha, também cada vez mais atrasada por problemas físicos, apanhou-me e entre nós pairava o sentimento que pela equipa tinhamos de continuar até onde fosse preciso. Ainda por cima, a avistarem-se dois possíveis lugares no pódio para a Inês e para a Vera, significaria que no colectivo tudo seria possível.E foi esse sentimento que nos foi alimentando o esforço ao longo dos restantes quilómetros, cada vez que via a Ana, gritava-lhe que não podíamos desistir e ela respondia que não sabia se aguentava, mas ia conseguindo ir... tínhamos de aguentar e chegar ao fim!

Tive de deixar passar muita gente. Já não conseguia reagir a nada, não que estivesse cansada, pois nem o calor me desgastou, mas a limitação física tramou-me!!Após os 14 kms vi a disputa acesa entre as nossas atletas na frente, senti que mais uma vez poderíamos fazer uma boa classificação colectiva, mas a minha atenção começava a ficar cada vez mais na tentativa de relaxar o meu abdómen para chegar à meta.

Sempre que podia gritava para as minhas colegas manterem a cabeça fria e terem calma pois ainda tínhamos 6 kms pela frente e controlar seria a palavra de ordem. Nisto, a Vera queixa-se que lhe mostraram a raquete vermelha, mas que não parou, pois não viu as três faltas necessárias no quadro. Limitei-me a concordar, para que seguisse, às vezes ocorrem falhas... mas não era falha alguma! E o pior é que a Inês também "levou" faltas... Tanto a Vera como a Inês tiveram as três necessárias faltas para a indesejada raquete vermelha da desclassificação... e antes dos 18 kms ambas foram desqualificadas por faltas técnicas, de suspensão e flexão.

Assim que me apercebi do sucedido, só me apeteceu chorar. Bolas! Não conseguia acreditar. Logo as duas??!! Parecia brincadeira de mau gosto, mas era verdade!

Tanto sacrifício, mas tanto... e estava a custar-me tanto ir até ao fim. Correu-me o sangue quente nas veias, engoli em seco e decidi parar, pois o que me estava a carregar até à meta não era o meu valor pessoal/individual, mas apenas e só nosso valor como grupo!

Tristeza e revolta apoderou-se de todas nós! Nada nem ninguém poderia alterar fosse o que fosse!

Enfim... a Alta Competição é mesmo assim... todos sabemos!

É com sucessos e desaires que se percorrem os caminhos.

Mas o vencedor não é só aquele que chega em primeiro lugar à meta... acreditem... é também aquele que depois de cair consegue levantar-se!

Em frente é o caminho... e é preciso seguir!!
Susana Feitor

3 comentários:

  1. Beijinho Susana.

    Há dias assim, felizmente são em menor número.

    Em frente é que é o caminho...

    JCBrito

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  2. Força Susana! Vais seguir em frente com a força que te é conhecida e que eu próprio já presenciei tantas vezes!

    Um beijinho deste teu amigo.

    Pedro Lourenço

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  3. Em frente è o caminho...e é preciso seguir!!!
    Adoro esta frase....
    Es tu!
    Beijocas desta tua Little cousine

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